Por Lilian Britto
A psicoterapia infantil é uma prática da psicologia que tem como objetivo favorecer o bem-estar e a qualidade de vida da criança e de sua família. Esta prática também é útil na prevenção de problemas familiares e infantis, bem como na redução de dificuldades já instaladas na família e na criança.
A psicoterapia infantil, portanto, é o espaço onde a criança é acolhida e ouvida, podendo expressar seu universo privado e aprender a comunicar sentimentos como raiva, saudade, tristeza, frustração, medo, ansiedade e amor.
Durante o atendimento à criança, o psicólogo usa estratégias lúdicas de acordo com a idade, tais como histórias, desenhos, colagens, pinturas e jogos, a fim de criar um ambiente no qual ela se sinta à vontade.
Por meio dessas atividades, o profissional tem a oportunidade de conhecer melhor a criança, seus pensamentos, sentimentos e comportamentos. Entende-se, assim, a necessidade de um ambiente que proporcione momentos à criança e aos pais e/ou cuidadores para repensarem suas relações, suas escolhas, suas dificuldades, seus sonhos e suas possibilidades.
Compreender a expressão da criança é descobrir que ela constrói um mundo de fantasia que desperta sentimentos de medo e ansiedade, mas que precisam ser expressos para serem compreendidos e resinificados.
Quando a criança em terapia experiência os seus sentidos, o seu corpo, os seus sentimentos e o uso que pode fazer do seu intelecto, ela recupera uma postura sadia frente à vida. Neste sentido, conhecer a criança e seu mundo, e, ao mesmo tempo, ajudar a desenvolver sua personalidade e ativar os germes do vir a ser e o que sou, é o objetivo principal do espaço terapêutico.
É importante salientar que sonhos, imagens, desejos, desenhos, imaginação e fantasias serão um dos instrumentos principais do psicólogo para ter uma visão geral da criança e direcioná-la ao seu desenvolvimento sadio.
O processo terapêutico com crianças tem o objetivo de resgatar o curso satisfatório do desenvolvimento, propiciando oportunidades de reencontrar a vivacidade e o contato com o mundo através da desobstrução de seus sentidos, do reconhecimento do seu corpo, da identificação, da aceitação e da expressão de seus sentimentos, da possibilidade de realizar escolhas e de verbalizar suas necessidades, bem como de encontrar formas para satisfazê-las, além de aceitar quem ela é na sua singularidade.
No momento em que os pais dão o primeiro telefonema pedindo ajuda, em geral a situação já se tornou muito difícil, se não intolerável, seja para os próprios pais ou para a criança. Às vezes é a escola que nota algum comportamento estranho e acaba chamando a atenção dos pais.
Por certo, muitas vezes, a criança é o bode expiatório de uma família desestruturada e, por isso, os pais “escolhem” a criança como fonte de um problema. Mesmo que seja percebido claramente que a criança é o sintoma do sistema familiar, o simples fato de ter sido ela escolhida como o problema e de ter feito algo para chamar a atenção sobre si mesma indica que precisa de uma oportunidade para adquirir alguma sustentação por si só.
Quando uma criança é levada a uma clínica ou a um consultório, os sintomas de que os pais se queixam não são necessariamente os mesmos para os quais a criança sente precisar de ajuda, já que o sofrimento infantil está intimamente ligado às ansiedades dos pais e, com efeito, sua causa pode muitas vezes estar mais neles do que na própria criança.
Por isso, o psicólogo infantil entra em ação para trabalhar em conjunto com a família, precisando, muitas vezes, encaminhar um dos pais ou ambos para um tratamento psicológico individual.
Por essa razão, é aconselhável, na consulta terapêutica, ter uma entrevista inicial com os pais da criança. Nesta primeira entrevista com os pais, o psicólogo muitas vezes precisa dizer o que se pensa a respeito da situação apresentada, das possíveis causas da problemática e opinar sobre a condição verbalizada.
Quando isso ocorre, é comum os pais recordarem-se de outros episódios da vida da criança ou da vida familiar que esclarecem, comprovam ou questionam as hipóteses levantadas. Ao conversar com os pais, o psicólogo passa a conhecer as características de cada um deles e da própria família, como também ajudá-los a lidar com os conflitos e lembrar da responsabilidade que ambos têm em relação ao filho.
No final da entrevista, é importante que os pais expliquem à criança que eles virão conversar com uma pessoa que procurará compreendê-la e ajudar no que for preciso. Por exemplo, no meu primeiro contato com a criança, que normalmente acontece após a sessão com os pais, peço para eles explicarem na frente dela o que é psicólogo, terapia e o motivo de estarem levando-a lá. Isso é importantíssimo, pois a criança precisa se vincular ao psicólogo! E, para isso, os pais devem contar a verdade e dizer o que está acontecendo para ela.
Tudo isso faz com que a confiança e abertura se instalem e, assim, o processo pode fluir e ter bons resultados. Não adianta “levar” a criança para o psicólogo e achar que “todos os problemas estarão resolvidos” — longe disso! A família precisa se implicar para que o trabalho feito dentro do consultório seja estendido para casa, escola e externo. Por isso a parceria com os pais é tão importante, isto é, os pais também participam do processo.
No trabalho com crianças é desejável que se possa contar com a família e que ela seja parceira no processo. Aprender a perceber e a lidar com os momentos de crise que possam emergir ao longo do seu desenvolvimento é um dos primeiros fatores a serem exercitados.
Observa-se que os pais, quando trazem a criança para o consultório, vêm com um sentimento de fracasso e, quando são convidados a trabalhar com o filho e observam o seu progresso, recuperam a autoconfiança como pais e o relacionamento com a criança é “distensionado” pela diminuição da ansiedade.
Para algumas crianças, o simples fato de poder brincar em um espaço seguro, permissivo, acolhedor e confirmador com aquilo que ela queira escolher, já é o suficiente para promover as reconfigurações necessárias ao bem-estar e ao resgate de um funcionamento saudável na sua interação com o mundo.
Lembrem-se: cada criança é um ser singular, e é por isso que cada momento e experiência será vivenciada de maneira muito particular. Diante de um conflito, uma pode não se importar ou muito menos dar um significado; outra pode somatizar, chegar a adoecer ou apresentar comportamentos estranhos (de agitação a introspecção).
Umas podem se resolver sozinhas ou melhorar com o passar do tempo, outras não. Normalmente é a partir dos 4 e 5 anos que as crianças começam a ter uma noção mais de si e do seu ambiente e não conseguem resolver seus conflitos sozinhas, podendo precisar de ajuda. Se a família conseguir perceber e ajudar, ótimo! Caso não consiga, acho que é chegada a hora de buscar ajuda.